Faz tempo que as empresas tentam entender de forma intimista a cultura dos consumidores e seus hábitos. Qualquer conceito original do marketing diz: nosso princípio é entender as necessidades para atendê-las. Mas este foi apenas o início de tudo, atualmente as pesquisas, abordagens e a tecnologia trabalham de forma cada vez mais sofisticada para “entrar na cabeça” do consumidor, tentar “pensar como ele” e chegar ao objetivo antes mesmo da necessidade acontecer.
Hoje é praticamente impossível chegar à conversão de compra sem antes “entrar” na vida do consumidor, e é por isso que vemos uma corrida incansável por novas técnicas investigativas capazes de “participar” da vida das pessoas. A antropologia já faz isso há mais de 200 anos, o marketing apropriou-se das suas técnicas, adaptou para o setor de consumo e, com o passar do tempo, aprimorou abordagens com o intuito de construir uma forte conexão entre consumidores e marcas.
Etnografia. Esta metodologia das ciências sociais, utilizada principalmente pela antropologia, é a base dos estudos realizados para entender comportamentos. Ela ganha destaque no meio corporativo como um poderoso recurso na tradução do modo de vida dos clientes potenciais. A etnografia permite entender profundamente comunidades e grupos sociais, podendo compreender um terreno no qual a cultura de valores, sentimentos e posicionamentos configuram-se ainda no pensamento. E não só isso, observa como os resultados obtidos podem ser conduzidos até encontrar a marca ideal para o cenário que for proposto e transformar pensamentos em ações de compra.
É neste ponto que a marca aparece para acompanhar ideias e atitudes. Ela “veste mulheres de todos os tipos”, “considera todas as formas de amar”, “se posiciona contra o racismo”, “protege os idosos”, “oferece alimentos mais qualificados”, “vendem serviços que atendam diversos nichos” e “prometem sanar variados gatilhos e dores”. Agora, por meio das redes sociais e dos chamados algoritmos, é possível ampliar o processo de conhecer o outro e antecipar o “querer” do usuário.
Tudo isso pode sim ser conduzido de forma saudável. A “etnografia”, o “entender para atender do marketing” e o “conviver com o consumidor” não pode ser demonizado. Algumas pessoas acreditam que isto é uma “invasão de privacidade” ou tentam provar teorias da conspiração afirmando que somos “monitorados pelas câmeras dos dispositivos”, por exemplo. Nada disso foi provado e a explicação pode ser bem mais simples do que se imagina e existe desde que nos entendemos como sociedade: o bom senso. Quando uma empresa utiliza estas ferramentas para oferecer o melhor para o consumidor, sem mirar apenas nos lucros, é a forma ética e honesta de lidar com esta nova forma de entender o mercado de consumo.
Não tem mais volta, precisamos, a partir de agora, aprimorar as boas práticas e sempre ter como base o pensamento positivo de consumo. Num dos textos anteriores conversamos sobre consumo e seu principal propósito: oferecer um canal no qual a sociedade possa mostrar a sua identidade, impactando positivamente a vida em grupo. Portanto, é importante entender que todo este processo não deve ter como objetivo apenas a “abertura de uma carteira”, mas um contexto amplo no qual o compromisso social possa assumir o protagonismo e as empresas possam chegar ao final do dia dizendo: “valeu a pena, o dever foi cumprido”. Isto não é discurso de bondade apenas, é um discurso de preservação e evolução. Só vale a pena se for junto.
Referências
Lindstron, Martin. A Lógica do consumo. Rio de janeiro: 2008
Mlodinow, Leonard. Subliminar. Nova York: 2012